Estudo desenvolvido no CEFET-MG analisa o fenômeno da Uber e a “Uberização” no Brasil

motorista de uber

Oportunidade ou precarização? “Uber” e a Uberização vem gerando discussões sobre novos formatos de relações trabalhistas mediadas por algoritmos.

Com uma história controversa, a Uber vem gerando discussões no meio acadêmico, especialmente sobre novos formatos de relações trabalhistas mediadas por algoritmos. Esse é o tema da pesquisa de mestrado “Controle e modulação de comportamento no uberismo: um olhar sobre o gerenciamento algorítmico através de análises de patentes da Uber”. O estudo foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) do CEFET-MG pelo Administrador Matheus Mattos, com orientação do professor Admardo Gomes Júnior. # uberização

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Desde a graduação no CEFET-MG, Matheus investiga modelos de trabalhos contemporâneos e a conexão entre tecnologia e trabalho na Uber, a “uberização” é um fenômeno que está situado nessa nova, e complexa, dinâmica. Usuário da plataforma Uber desde a chegada ao Brasil, ele passou a observá-la atentamente. “Essa experiência como cliente ao longo dos anos foi muito útil para a pesquisa como uma espécie de ‘diário de campo’, porque sempre conversava com os motoristas, ouvindo histórias, elogios e reclamações que davam contornos sobre o trabalho na plataforma da Uber”, destaca. 

Criação

Paris, 2008. Em visita para uma conferência, dois americanos tentam pegar um táxi e não conseguem. De volta aos Estados Unidos, Travis Kalanick e Garrett Camp desenvolvem um aplicativo para conectar motoristas e passageiros por meio de uma ferramenta on-line. Nesse ponto da história, você já imagina qual a gigante de tecnologia foi criada, supostamente, a partir desse episódio na cidade-luz: a Uber Technologies, lançada em 2010. 

Supostamente porque Garrett Camp já havia registrado uma empresa chamada “Ubercab” em 2008, e realizou análises de viabilidade econômica, pesquisou legislação trabalhista e desenvolveu o protótipo antes mesma da fatídica viagem. Em paralelo, Camp havia criado e vendido sua primeira empresa para a Ebay por cifras milionárias. 

Brasil a bordo

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 A “Uber” desembarcou no Brasil em 2014, próximo à Copa do Mundo, período marcado por uma crise política no país, que resultou em cenários de inflação e desemprego, ou seja, ideal para a expansão do novo modelo de negócios. Em 2020, de acordo com a empresa, o Brasil registrava 1 milhão de motoristas cadastrados, o que corresponde a 23% da força de trabalho global da plataforma. 

Há nuances que envolvem a relação trabalho e tecnologia que não podem ser enquadradas exclusivamente pela análise moral, destaca Matheus. Pela ótica dos motoristas, por exemplo, é preciso pensar que a Uber representa acesso à ocupação e à renda. “As plataformas permitem que muitos trabalhadores e suas famílias possam manter moradia, alimentação e consumo, que, de outro modo, talvez ficassem vulneráveis. Esse impacto é socialmente relevante se inserirmos a situação econômica brasileira, com altos níveis de desemprego e informalidade”, pontua. 

Aceitar ou cancelar?

As vantagens, claro, convivem com desvantagens, que podem não ser tão claras aos motoristas e, por isso, são evidenciadas no estudo. A manutenção dos veículos, seguro, alimentação, previdência e outros custos devem ser feitos pelo motorista. A assistência da plataforma aos trabalhadores é virtual, gerando insatisfação quando necessitam de auxílio. 

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Além disso, a gestão do trabalho é realizada por algoritmos, ou seja, não há “chefe” humano para discutir pontos sensíveis ou reavaliar demandas, apenas computadores para organizar a força de trabalho, otimizando esse recurso de acordo com o interesse da plataforma. 

Mesmo a mais apregoada de todas, a autonomia, deve ser analisada com critério. “Essa autonomia, que permite definir em quais dias e horários trabalhar, é colocada em xeque ao percebermos como motoristas têm pouca ou nenhuma agência em outros aspectos mais críticos do trabalho. Eles não decidem preços, não podem cancelar mais corridas que certo limite e não podem manter notas de avaliação abaixo de uma referência, sob risco constante de expulsão da plataforma, ou ‘desativação da conta’ nos termos da empresa”, acrescenta. 

Destino: futuro

Para o pesquisador, não é possível colocar na conta da “Uber” todas as mazelas decorrentes de um mercado de trabalho que, há décadas, vem sendo transformado no Brasil. “A precarização e o afrouxamento de direitos trabalhistas vêm desde os anos 1970, porém ganha intensificação quando inserimos a gestão automatizada por algoritmos articulada ao discurso empreendedor contemporâneo”, pontua. 

E reforça não ver sentido associar avanço tecnológico com precarização, como fazem crer algumas discussões envolvendo a empresa de mobilidade. “É uma simplificação que desconsidera possíveis ganhos de produtividade e benefícios gerados pela implementação de novas ferramentas ou processos. Isso não significa que as mudanças tecnológicas sejam neutras, elas expressam condições sociais, econômicas e políticas, pois são criadas para fins específicos e orientados a objetivos determinados. É preciso renovar constantemente nosso entendimento, atentando para quais dinâmicas as tecnologias apontam quando analisadas, esse é o desafio na relação trabalho-tecnologia”, finaliza.

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Oportunidade ou precarização? “Uber” e a Uberização vem gerando discussões sobre novos formatos de relações trabalhistas mediadas por algoritmos.