O resultado da pesquisa da UFLA indica uma tendência de redução dos regimes de chuvas em quase todos os municípios.
Com a crescente preocupação em relação às mudanças climáticas e seus impactos na agricultura, uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) analisou os padrões de chuvas em Minas Gerais, com foco nas áreas produtoras de café.
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Séries históricas das precipitações médias mensais, registradas de 1970 a 2000, foram comparadas com os dados de um modelo de previsão para o período de 2021 a 2100. Os resultados indicaram uma tendência de redução dos regimes de chuvas em quase todos os municípios, afetando especialmente as mesorregiões hidrográficas do Rio Doce, Médio São Francisco e Jequitinhonha.
Os dados de 1970 a 2000 foram obtidos na base WorldClim 2.1; já para o período de 2021 a 2100, os pesquisadores utilizaram o modelo climático Coupled Model Intercomparison Project Phase 6 (CMIP6). As alterações nos padrões de precipitação variaram conforme as regiões do estado e os recortes temporais selecionados para análises.
Segundo o pesquisador Flávio Vanoni de Carvalho Júnior, um dos autores do estudo, essas previsões possibilitam que os agricultores ajustem o calendário de plantio de suas culturas e adotem práticas conservacionistas que minimizem os impactos negativos da seca sobre o solo e as plantas. “Por meio dessas informações, os produtores podem realizar a seleção das melhores áreas para a implantação de novas lavouras e escolher cultivares mais resistentes à escassez de água”.
O estudo, que utilizou um cenário socioeconômico otimista de desenvolvimento sustentável, enfatiza que a agricultura é uma atividade altamente dependente das chuvas, e a antecipação de estiagens em determinados anos e regiões pode fazer a diferença entre uma colheita farta e uma safra comprometida.
Essa situação se aplica tanto a culturas não irrigadas quanto às irrigadas, já que estas últimas utilizam majoritariamente água da superfície ou de reservatórios subterrâneos, os quais são abastecidos principalmente pelas chuvas.
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A pesquisa analisou, ainda, a produção agrícola municipal de café arábica entre 2019 e 2020, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a comparou com as mudanças climáticas previstas pelo CMIP6. Esse mapeamento identificou que Patrocínio, na região do Alto Paranaíba, foi a cidade com a maior produção de café do estado, seguida por Campos Gerais, na região Sul, e Três Pontas, na região Sudeste.
Entre os grandes municípios produtores com previsão de maior diminuição nas chuvas no período 2081-2100, destacam-se os das regiões do Vale do Rio Doce e Zona da Mata, como Caratinga, Simonésia e Manhuaçu. Já para o período de 2041–2060, o maior impacto estará sobre Campos Altos na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
Realizadas por ferramentas de geocomputação com o software R, essas previsões, diante de um cenário de mudanças climáticas, tornam-se instrumentos essenciais para a tomada de decisões estratégicas no campo.
Para o professor Marcelo de Carvalho Alves, da Escola de Engenharia e um dos autores do estudo, as reduções das chuvas na maior parte dos municípios mineiros reforçam a urgência de a sociedade pensar sobre um desenvolvimento mais limpo e sustentável.
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Segundo ele, é crucial diminuir o desmatamento e a utilização de combustíveis fósseis, além de planejar a expansão urbana e rural que intensificam o aquecimento global e impactam negativamente o meio ambiente, afetando, assim, as chuvas e a agricultura. Em 2024, Minas Gerais foi responsável por aproximadamente 70% da produção de café arábica do Brasil.
Mais sobre o estudo
Publicado em 2024 com o título “Analysis of rainfall variations and coffee production areas with climate change in Minas Gerais via future scenarios” no periódico Theoretical and Applied Climatology, uma das revistas meteorológicas mais antigas do mundo, o estudo foi realizado pelos pesquisadores Flávio Vanoni de Carvalho Júnior, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola da UFLA e os professores Marcelo de Carvalho Alves e Luiz Gonsaga de Carvalho, ambos da Escola de Engenharia da Instituição.
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.
Apuração e Matéria: Pedro Henrique Cardoso – Revisão: Ana Eliza Alvim – Artes Gráficas: Edër Spuri – Revisão de Arte: Samara Avelar
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Fonte: ciencia.ufla